segunda-feira, 3 de setembro de 2018

CAPÍTULO 02 - POINT OF BEING RIGHT

A primeira coisa que Marina fez quando acordou sozinha em sua cama no dia seguinte foi pensar em Débora. Estava verdadeiramente interessada, como há muito não ficava. Desejava Débora com a força que se cobiça tudo que parece inalcançável. “Passa assim que a gente trepar”, afirmou mentalmente, tentando convencer a si mesma, sem grandes resultados. Voltou a pensar nela, desta vez de uma maneira bem mais carnal. A lembrança dos beijos que haviam trocado foram o bastante para deixar Marina no mesmo estado em que havia chegado em casa na véspera. Sem pensar duas vezes, desceu as mãos pelo próprio corpo, pronta para se resolver sozinha, exatamente como havia feito antes de dormir.
Foi interrompida pelo som do celular, cuja insistência a fez abandonar a ideia de não o atender. Por um instante insano, cogitou a possibilidade de ser quem queria, por mais improvável que fosse. Deixou escapar um suspiro profundo ao ver que era Amanda, e atendeu com um humor ainda mais ácido que o de costume:
– Estás viva?
Amanda não fez rodeios:
– Você e a Débora nos trouxeram aqui em casa? Ou eu sonhei?
Marina fez uma pausa do outro lado, antes de responder:
– Não foi sonho. A Débora me ajudou, tivemos quase que carregar vocês duas. Depois levei ela em casa.
Impossível para Amanda esconder a surpresa:
– E as duas sobreviveram?
A pausa que Marina fez foi ainda maior do que a primeira. E, por fim, acabou dizendo apenas:
– Prefiro não falar mais sobre ontem.
Aquilo causou nela a mais terrível desconfiança:
– Eu fiz alguma coisa da qual devo me arrepender?
A resposta veio de uma maneira absolutamente debochada:
– Deixa eu ver... Você tentou me agarrar, se esfregou em mim em público, insinuou que a Débora é ruim de cama e todo mundo que estava na festa ontem sabe que você pegou uma professora chamada Michelle. Ou melhor, que ela pegou você. Só isso. Nada de mais.
Só havia uma única coisa a dizer:
– Puta merda!
Assim que encerrou a ligação com Marina, ligou para Débora:
– Eu queria me desculpar por ontem. A Marina me falou que...
Débora nem a deixou completar:
– O que ela falou? Com certeza quis contar vantagem!
Confundiu Amanda completamente:
– Como assim? Não estou entendendo...
Sua indignação era tão grande que a impediu de perceber que estavam falando de coisas diferentes:
– Ué, ela não te contou sobre ontem à noite?
Apesar do medo que estava de perguntar, Amanda precisava saber:
– Afinal, o que foi que aconteceu?
O desespero na voz de Amanda fez Débora finalmente compreender que tinha falado demais. Sua primeira reação foi surpresa. Marina não tinha se vangloriado, sequer havia contado. Era algo que jamais esperaria dela. Preferiu não pensar no motivo que a levara a ser tão discreta. Por fim, acabou dizendo:
– A Marina me beijou.
Perante tal revelação, totalmente inesperada, foi impossível para Amanda deixar de perguntar:
– E você não beijou ela de volta?
Óbvio que Débora não iria – não tinha por quê – mentir:
– Beijei, mas... – Uma breve pausa antecedeu o momento em que se permitiu desabafar: – Ah, nós ficamos. No seu apartamento e depois no carro dela. Mas a gente só se beijou.
Sem saber o que era mais inacreditável, Débora e Marina terem ficado ou não terem feito sexo, Amanda só conseguiu dizer:
– Não acredito! – Assim que se recuperou do choque, foi tomada pela mais intensa curiosidade: – Mas como assim? Me conta isso direito! O que você achou? Como é que foi?
Saiu numa explosão:
– A Marina é louca! É uma inconsequente, uma safada que não vale nada! Uma vadia! Uma cafajeste!
Amanda riu:
– Não foi isso que eu perguntei. – Mudou completamente o tom, foi incisiva quando a questionou: – Você gostou ou não gostou?
Débora suspirou, hesitou, mas não negou. Confessou muito mais para si mesma:
– Gostei. – No entanto, aquilo não mudava nem o que pensava sobre Marina, muito menos o que já havia decidido: – Mas não vai acontecer de novo.
Depois que a conversa com Débora terminou, Amanda ligou para Marina outra vez:
– Eu não acredito que você ficou com a Débora ontem e não ia me contar!
Na voz de Marina havia uma tensão e uma ansiedade que não lhe eram habituais:
– Ela te contou? O que ela falou?
Amanda se ateve aos fatos:
– Que vocês ficaram, aqui em casa e no seu carro, mas que só se beijaram.
Deixou escapar um suspiro:
– É. Foi isso.
E se calou, obrigando-a a dizer:
– Tá, mas quero saber mais. – Nem assim conseguiu quebrar o silêncio de Marina. Insistiu: – Como é que foi, o que você achou? Foi bom?
Saiu numa explosão:
– A Débora é muito certinha, toda comportada, colocou limites, tirava a minha mão, e... Não deixou rolar nada, me deu só uns beijos e me cortou.
Chegava a ser engraçado ver Marina daquele jeito. Amanda riu e perguntou, exatamente como tinha feito com Débora:
– Mas você gostou?
Ela não hesitou. Pelo contrário, aproveitou para desabafar:
– Gostei. Mas não fiquei nem um pouco satisfeita.
Era surpreendente:
– Quer dizer então que a Débora te deixou com um gostinho de quero mais?
O resultado tinha sido melhor do que o esperado, pois nunca tinha visto Marina tão desconcertada:
– Eu realmente não quero falar mais sobre isso.
Amanda estava sentada com Juliana, Débora e Bruno no barzinho de sempre quando Marina chegou. Não foi coincidência, a própria Amanda tinha avisado onde estariam, “caso Marina quisesse aparecer”. Algo lhe dizia que não faria mal dar um empurrãozinho nas duas cabeças duras.
Assim que Débora a viu entrando no bar, foi inevitável, sentiu o coração acelerar. Olhou furiosa para Amanda, sabia que era coisa dela. Amanda a ignorou completamente, fingiu que nem percebeu. Marina caminhou diretamente para a mesa em que estavam, mantendo os olhos fixos em Débora, que desviou os dela, visivelmente perturbada. Tomando a reação que obteve como estímulo, Marina rodeou a mesa, cumprimentou um por um: Bruno, Juliana e Amanda. Deixou Débora por último. Segurou-a pela cintura, teve que fazer um esforço imenso para conter a vontade que sentiu de beijá-la na boca. Limitou-se a tocar seu rosto com os lábios, o simples contato causou um arrepio que lhe subiu pela espinha, de um jeito deliciosamente inevitável. Débora, por sua vez, tentou se manter firme, mas foi impossível ignorar a reação que a proximidade lhe causou, estremeceu de forma involuntária quando Marina a beijou no rosto, e novamente quando ela soprou em seu ouvido:
– Não consigo esquecer a sua boca.
Não foi capaz de responder, muito menos de deixar de ruborizar. Indignou-se consigo mesma, com Amanda por ter compactuado com Marina e com a própria, por se sentar grudada nela, sem sequer perguntar se podia. A raiva de Débora aumentou ainda mais ao se deparar com suas colocações. Discordou de tudo que Marina dizia, foi rascante, propositalmente rude e agressiva. Contestou-a, de uma maneira agressiva e irônica, quase ácida:
– Não é todo mundo que tem a necessidade de se exibir. Tem quem prefira não se expor.
A réplica de Marina foi dada no mesmo tom:
– É, tem quem prefira esconder o que faz.
Olhou significativamente para Débora, que sustentou seu olhar, mas não foi capaz de disfarçar o próprio desconforto. Deixou claro que não queria nem iria permitir outra aproximação:
– Tem coisas que é melhor esquecer, fingir que nem aconteceram.
A mensagem foi imediatamente compreendida por Marina. Havia uma mágoa indisfarçável na voz dela quando disse:
– É, acho que é esse o caso. – Antes de se levantar, lançou para Débora: – Vou jogar sinuca na mesa apropriada.
Retirou-se da mesa com um ar abatido, quase magoado, que fez Débora pensar e repensar, e depois se arrepender. A conversa voltou a ser sobre Michelle e a esposa. Débora permaneceu distante, o pensamento longe, incomodada e inquieta. Foi num impulso, movido pelo que realmente sentia – e não pelas falsas verdades que havia dito antes – que anunciou que ia ao banheiro e se levantou, em busca do que desejava.
De onde estava, Marina possuía uma percepção completa do ambiente. Viu perfeitamente quando Débora surgiu, mas fingiu estar concentrada no jogo. Assim que ela atravessou a porta que separava o lado de fora da parte fechada do bar, localizou Marina. Perto da mesa de sinuca, com um taco na mão e um copo de cerveja na outra. Estaria mentindo se dissesse que não a achou deliciosa, sedutora e irresistível. Estava perdida, inteiramente atraída. E, naquela noite, disposta a assumir e usufruir disso. Respirou fundo e caminhou direto para ela, parou na sua frente:
– Acho que precisamos conversar.
Claro que Marina gostou. Na verdade, adorou. Mais uma vez, Débora a surpreendia. Mas o embate anterior a deixara na defensiva:
– Pode falar. Estou ouvindo.
Débora já esperava que Marina se fizesse de difícil. Mais do que isso, compreendia a razão dela estar agindo assim. Tinha dado motivos. Falou de um jeito suave, quase doce, sem nenhum artifício:
– Me diz uma coisa? Por que você veio aqui hoje?
A sinceridade na sua voz fez com que Marina finalmente a olhasse. Foi igualmente honesta:
– Amanda me disse que você estaria aqui. Vim por sua causa. Eu queria te ver. Queria ficar com você. – Um sorriso amargo antecedeu a conclusão: – Mas já entendi que foi só aquilo, não vou insistir. Pode ficar tranquila.
Teria se afastado se Débora não a impedisse, segurando-a pelo braço:
– Espera. – Tirou o copo de cerveja da mão de Marina e o depositou na mesa mais próxima. Fez o mesmo com o taco, antes de afirmar: – Você entendeu errado.
As duas se olharam. Marina em suspensão, imóvel e calada, esperando que Débora desse o próximo passo. E ela não a decepcionou, não se fez de rogada, segurou-a pela cintura e a puxou para si antes de beijá-la. Foi integralmente correspondida, perdeu por completo a noção de espaço, tempo e qualquer outra coisa que não fosse a boca e o corpo dela. Cada respiração, gemido e carícia conduzindo-as a uma necessidade imperativa e inegável, que Débora verbalizou numa confissão deliciosa, quase dentro do ouvido de Marina:
– Hoje eu quero mais do que beijos... – Colou a boca na dela uma última vez, antes de dizer: – Te espero lá fora.
Com um sorriso incandescente, Marina a acompanhou com os olhos até perdê-la de vista. Pelo entusiasmo dos beijos trocados, sabia que a noite prometia. Com a pulsação completamente acelerada e as mãos trêmulas de expectativa, foi até o caixa e pagou duas cervejas antes de sair. Passou pela mesa que a ausência dela fazia parecer vazia, se despediu de Bruno, Amanda e Juliana com um aceno rápido e foi ao encontro de Débora, pronta para se deixar arder e enlouquecer mais ainda.
O que nenhuma das duas imaginava era que a demora de Débora fizera Bruno ir atrás dela, e ele retornara minutos depois para a mesa onde as gêmeas estavam, inteiramente perplexo:
– Gente, tô passada! Vocês não vão acreditar no que acabei de ver! – Completou com o que Amanda já esperava: – A Débora e a Marina estão se pegando lá dentro!
Amanda não disse nada, sabia muito bem ao que ele se referia. Juliana quis ter certeza, já que a expressão tinha duplo sentido, e a primeira coisa que lhe veio à mente parecia impossível:
– Brigando ou se agarrando?
Bruno esclareceu, confirmando que, por mais inconcebível que fosse, era realmente aquilo:
– Aos beijos, no maior amasso!
Teria dado mais detalhes, se Débora não tivesse voltado para a mesa:
– Já vou indo.
Pegou a bolsa, deixou sua parte da conta em dinheiro em cima da mesa, se despediu depressa e saiu mais rápido ainda. Antes que pudessem contar até cinco, Marina passou por eles. Acenou, também aparentando pressa:
– Deixei duas cervejas pagas.
E foi embora também. Não precisava ser um gênio para compreender. Juliana deixou escapar:
– Genteeeem...
Bruno concordou em gênero, número e grau:
– Inacreditável!
Amanda apenas sorriu, feliz pelas amigas. Para ela, não parecia absurdo. Pelo contrário, fazia total sentido.
Assim que entraram no carro, Marina se virou para Débora:
– Pra onde?
A resposta foi imediata:
– Minha mãe tá em casa.
Não havia necessidade de dizer mais nada. Marina foi surpreendentemente gentil, mais pediu permissão do que sugeriu:
– Vamos pra minha casa então?
A concordância sem hesitação fez Marina sorrir de um jeito que deixou Débora inebriada. Depois a beijou de leve nos lábios antes de se virar para a frente, girar a chave na ignição e dar partida no carro.
AVISO IMPORTANTE: 
 VERDADES PARALELAS foi publicado pela Editora Vira Letra, por isso
SÓ FICARÃO DISPONÍVEIS OS TRÊS PRIMEIROS CAPÍTULOS PARA DEGUSTAÇÃO 

Postado em 10 de setembro de 2018 às 18h.

8 comentários:

  1. Ainda rindo com este capītulo, ninguém melhor que tu consegue descrever estes conflitos internos, indecisőes e decisões e o vai não vai...perfeito o frenesim da atraçao entre Marina e Debora...Aguardando os novos desenvolvimentos ;)
    Beijos
    Sandra

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    1. kkkkk
      Marina e Débora não são fáceis, né? Eita!
      Vamos ver no que isso vai dar...
      Amiga querida, obrigadíssima por ler e comentar! Adoroooooo!!!!
      bjo suuuuuuuuper gigantesco e especial no coração!

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  2. Marina... tá apaixonada... q fofa, não duvido q seja o q Amanda girina pensou... o fato de Débora não cair nos braços dela despertou algo mais em Marina... Adorei...
    Perfeito...

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    1. Ah não foi só isso, mas claro que fez a ficha da Marina cair mais rápido, né? kkk

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  3. Que fofinho essa paixão da Marina... Adorei isso... Aguardando a continuação da história...

    Beijinhos, Di...

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    1. No fundo a Marina é romântica! Será? kkkk
      Veremos!
      bjo suuuuuper mega giga no coração, linda!

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  4. Cada x mais fofas, adoro a maneira direta de Débora e como Marina reage a cada frase dela. Estas duas prometem pegar fogo mesmo...

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    1. kkkkk
      Essas duas não são fáceis mesmo, né? kkkkk
      bjo no coração, Cabrita! Obrigadíssima por comentar, é super importante pra mim! Obrigadaaaaa!!!

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